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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Anemia Falciforme e Malária

           A partir de um questionamento em sala de aula, sobre as células em forma de foice,  decidi escrever esse post sobre anemia falciforme e malária.
           A anemia falciforme é uma doença genética provocada por uma mutação no gene que codifica para a hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio nos glóbulos vermelhos. No indivíduo que tem essa doença, os glóbulos vermelhos tem a forma de foice quando vistos num microscópio óptico rudimentar.


Figura 1 - Glóbulos vermelhos normais e falciformes (Fonte: Wellcome Trust, Reino Unido)

            Quando um indivíduo possui duas cópias da mutação causadora da anemia falciforme (uma herdada do pai e outra da mãe), a doença resultante pode ser muito grave, com esperança de vida reduzida. Esperava-se, portanto, que essa mutação fosse rara em populações humanas, mas observou-se que essa mutação é muito prevalente nas populações de áreas onde a malária é endêmica. Isso acontece, pois indivíduos com uma cópia da mutação, além de não manifestarem sintomas da doença, tornam-se resistentes à malária.


Figura 2 - Mapas mostrando a distribuição geográfica da mutação responsável pela anemia falciforme (a e b) e a incidência de malária (c). A comparação dos mapas revela uma grande prevalência da mutação em zonas endêmicas para a malária na África tropical. (Fonte: Piel et al., 2010 Nature Communications)

            O mecanismo da resistência à malária foi recentemente descoberto no Instituto Gulbenkian de Ciência pela equipe de Miguel Soares e publicado na revista Cell em 2011. Nos experimentos realizados pela equipe, foi observado que ratinhos geneticamente modificados para produzirem uma cópia da hemoglobina falciforme não desenvolvem uma das formas mais mortais e severas da malária, a malária cerebral, replicando assim o que acontece em humanos. A proteção conferida pela hemoglobina falciforme atua sem afetar a capacidade do parasita de infectar os glóbulos vermelhos do hospedeiro, ou seja, a hemoglobina falciforme torna o hospedeiro tolerante à presença do parasita.
           O grupo de Miguel Soares havia demonstrado anteriormente que a enzima HO-1 que produz o gás monóxido de carbono, protege contra a malária cerebral. Ana Ferreira revelou que a produção desse gás impede que o parasita Plasmodium cause uma reação no hospedeiro que leve à sua morte, mas sem interferir no ciclo de vida do parasita.
       

         




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